quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Reza, Salvador, reza...

Jacó olhou pra mim e disse: “Vai ser tu!”.

Logo eu que tenho os bracinhos tão finos, pensei. Se ele cair não vou ter nem como segurar.

Dizem que nessas horas a gente vira super-homem, mas eu não sei não.

De prosa em verso o semi-deus vai ficando cada vez mais semi, até eu poder ver a espinha mal-espremida na testa mal-humorada.

Do samba-dolente ao rock-repente vi meu amigo ficar doente. Somado sem precisão numa estatística que às vezes mente.

Mas se Jacó me fez Bezerra nesse sertão, vou mostrar que sou João. De ponto em ponto. Acabando com todos Virgulinos.

A pele dura, pouco-a-pouco, vai rachando a veia. Escura.

O dedo torto, quebra-quebra e vai perdendo a unha. A unha.

A crueldade, sem gastura, vai ficando fria. E gela.

Me da tua mão, Aquiles, que herói não vais mais ser. Ta aqui tua armadura nova, banhada a ouro e bem lustrada.

Agora te olha no espelho e te acostuma, porque essa vai ser tua cara, daqui pra frente.

E quanto às mulheres que não te querem bem, não te preocupas, o domingo pouco-a-pouco vai matando uma-a-uma.

- Não é a toa que te chamam de Salvador.

- É que eu sei rezar, Jacó. Eu sei rezar...

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Em cores dobradas meu coração retratado

Como dobradura de papel tu me tens na mão. Me fazes em tantas partes que, se cortasse algo mais que o coração, viraria quebra-cabeça – não bastasse a minha já quebrada.

Hoje, aberto e desvendado, exponho mais que a ferida e me vejo figura-inteira, precisando mais que só teus dedos pra me segurar.

A imagem daquilo que nunca fomos está borrada pelas lágrimas que derramei em razão de cada sorriso teu e, mesmo sendo obra do acaso, nossa tela ainda enfeita a sala desse lugar que nunca foi o nosso lar.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Sobre ser e estar

Alguns tentam ser alguém, eu só quero ser eu mesmo.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Lua e Sol na Terra de Deus

Quando a lua anoitece o dia, o dia morre de alegria.
O dia morre pensado em amanhecer a lua e, assim, a lua desce e padece a espera de outro encontro,
num eterno esconde-esconde onde, qualquer dia, talvez num meio-dia, a lua-cheia de não ter o amor, abrace o sol e receba seu calor.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Da Lua que virá, o nada vira tudo

Antes de ter o tudo, tinha o nada.
E o nada, preto-e-perto, tinha tudo, limpo e claro, tomado pelo preto, longe-escuro.
Um dia o dia vira, o vento vira a vela e a vela apaga o vento.
O sol que se gabava já não sola como solava,
sente o frio que vem com o vento, triste-opaco, já é relento.
O nada que está com tudo, tem tudo, que ainda é nada,
mas sabe o tudo que ainda é tudo se hoje o tudo ainda é nada?
Meu dia ainda é noite, e quem sabe é o sabiá,
mas do tudo, que ainda é preto, espero a Lua me iluminar.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Sentindo pena dói menos ainda

- De marreta é assim, filho, “levanta pra cima” e, quando desce, quem vem a baixo é o boi. É uma. E vai um. E vem outro. E outra. E vai o outro. E mais um. E mais uma. E é uma só porque o pai tem pena deles, filho.
E depois “da uma” vem a faca – se não morreu “na uma” morre na faca.
Passa a faca e deixa de pata pra cima, o sangue sai do buraco e entra no nariz pra sair no buraco de novo – se não morreu na faca morre no sangue.
Vez ou outra o pai pega uns boi brabo, filho, uns que não morrem nem na marreta, nem na faca e nem no sangue, mas aí, depois do sangue, o pai tem que tirar tudo que tem dentro, pra vender separado pro moço do açougue e, se não morreu antes, morre agora. Desses eu sinto mais pena. Esses morrem vazios e ainda por cima sentem o vazio... se sentem vazios – dizem que o vazio de dentro é o pior.

- E eles gritam porque dói, né pai?

- Doer, dói, mas ia doer mais se o moço do açougue chegasse aqui e não tivesse boi pra eu vender, ia doer mais porque ia doer na gente, filho.
Agora vai pra dentro de casa, amanhã o pai te ensina como sentir pena deles – sentindo pena dói menos ainda.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O "amor" e não poder vencê-lo

Hoje eu já não caibo em mim. Meus olhos reluzem uma solução de água e sais que me ofusca a vista e, só de teima, fica ali, salvando minhas dores de serem enxurradas.
Por mais que eu fuja do amor ele sempre dá um jeito de me encontrar - a razão e o coração brigando de navalha nos dentes e a alma se debatendo, tentando descobrir se existe algum lugar mais baixo que o chão.
Durante um mês inteiro fiz um regime, cortei carboidratos e tudo aquilo que provocasse o amor, mas infelizmente, durante esse mês, tudo que consegui perder foram trinta dias da minha vida e um bocado de força imunológica.
Eu não tenho como me esconder dele, por mais que eu tente, ele sempre me acha. O “amor” está nos dentes brancos dos comerciais, no café amargo com quatro colheres de açúcar, no mico-leão da nota de vinte e até no tempero/canção brega que a dona de casa usa pra dar gosto ao feijão. O único problema de me juntar a ele, o amor, é que assim estarei admitindo que não posso vence-lo - não poder não é o problema, o problema é admitir.
Minha salvação é que em tempos de pornografia virtual ninguém mais precisa ser amado para amar. Sentimentos platônicos voltaram com tudo nessa estação – felicidade 24h por dia ou garantimos a devolução do seu esperma.
Sites de relacionamento, e-mail com peitinho, chá das cinco... é tudo a mesma merda. O mundo, hoje, não apenas me condena como também me executa e eu, nessa prontidão sem fim, não apenas vou fingindo que sou rico, mas também, de esperto que sou, finjo ser bobo e, o amor, de malvado que é, finge que acredita.

Pormenorização fragmentada

Quando você acha que a sua vida está boa, você começa a entendê-la. Ai é que complica tudo.
Ver seus sonhos baterem de cara no muro da razão não é para os fracos. Ou talvez até seja, de repente os fortes tem sonhos feito eles, capazes de quebrar qualquer muro, tijolo-por-tijolo, até ficar só o pó.
Vez ou outra, tenho espasmos de sanidade e me deparo com questões obvias da vida... tão obvias que nem consigo achar resposta. Porem eu logo me controlo, faço um esforcinho e volto à minha alegre-ignorância.
Alguns dos meus momentos de insanidade-invertida deixam marcas. Marcas que eu mesmo faço, rasguinho-por-rasguinho, em toda a extensão do meu peito tentando extrair, assim, qualquer resquício de amor. Amor esse que eu só encontro depois de um ou dois litros de sangue A menos no meu corpo. Fico deitado, imóvel, no chão, me fingindo de morto pra ver se assim Deus vem falar comigo. Ele sabe que eu não acredito nele, mas um dia eu ainda provo pra mim mesmo que estou errado.
Enquanto isso eu fico esperando. Esperando o desespero de esperar sentado e me iludindo, achando que a única semelhança entre eu, sucedido estelionatário de ilusões, e o pobre operário de construções é o sufixo que nos rege.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Fui só pra ver como volto

Ali estou eu, assistindo da primeira fila minha própria morte, fazendo uma diligencia do meu eu. Estou sozinho num quarto escuro pensando em por que diabos minha vida teve que ser tão regrada... deixar de fazer o que queria é do que mais me arrependo nessa hora, mas também não deixo de pensar se eu realmente quis as coisas certas. Até que ponto então fazer ou não fazer algo foi certo ou errado? minha vida sempre foi cheia dessas questões que só agora eu consigo ver o quão estúpidas são.
Ainda posso sentir que está frio, o lençol verde que me cobre não é suficiente pra me aquecer essa noite, tampouco as lembranças de todos os momentos quentes da minha vida. Eu nunca fui muito católico mas me entristece o fato de não ter um padre pra me dar a extrema unção pois já estou in articulo mortis. Só porque eu nunca acreditei em Deus tinha Ele que deixar de acreditar em mim? toda minha vida me chamaram de Salvador e agora, na hora que eu mais preciso, não posso salvar a mim mesmo e não há ninguém pra me salvar.
Eu sempre ouvi falar que quando estamos prestes a morrer nossa vida passa diante de nossos olhos e eu agora vejo tudo preto, será que é isso a minha vida, a mais pura ausência de cor? afinal eu não vejo a luz branca no fim do túnel, eu não vejo o túnel, não vejo nada...
Meus amigos, os poucos que tenho, devem estar todos ocupados, afinal todos eles tinham algo pra fazer, um estimulo para continuar lutando, coisa que eu nunca tive. Talvez tenha sido por isso que a minha vida foi se acabando, de tanto ficar quietinho no meu canto, parado, ela foi se acostumando assim. Minha vida foi achando que viver era isso, não fazer nada e então a morte, para ela, é o ápice da vida.
Não tenho nenhuma mulher pra chorar por mim nesse momento. Todas que tive foram, na minha vida, pequenas parasitas que sugaram tudo de bom que tinha em mim. Meu carinho foi com uma, meu respeito foi com outra, minha dignidade, minha alegria e a ultima de todas levou consigo só o que sobrava, meu pequeno coração que por ela insistia em bater. Nem senti muita falta dele, afinal ele foi com sua verdadeira dona.
Talvez o meu problema tenha sido minha bondade excessiva, nunca tive coragem de roubar nada disso que me foi tomado pra refazer o meu eu.
Penso agora em todos os cigarros que não fumei, em todos os foras que dei e todas as canções que não cantei. Quantas mais vão vir depois que eu morrer? minha modéstia me faz pensar que o mundo vai seguir e eu não vou estar lá pra ver, mas tudo aquilo que eu aprendi com os falsos filósofos da tv me faz pensar, em contra-ponto, que o mundo pode acabar ali, no exato momento da minha morte. Se não acabar o mundo inteiro, pelo menos o meu mundo eu sei que vai acabar e se serve de consolo sei ao menos que não vou levar a vida de ninguém comigo, afinal ninguém habita esse lugar cheio de chuva e neblina.
E minha morte é isso, um dia nublado com leves pancadas de chuva. Não posso nem ao menos dizer que meu apocalipse particular é como esses de filmes onde o dia vira noite e uma grande tempestade devasta tudo que passa por seu caminho. Os “cavaleiros” que vem ao meu encontro são simpáticos homenzinhos que montam suas bicicletas e me perguntam se não quero carona. Dizem aquilo como se minha resposta não fizesse muita diferença. Se eu aceitar ir, tudo bem, se não, não. Mas se eu não aceitar ir faço o que? depois de todo esse alarde que fiz pra mim mesmo com essa coisa de morrer, não posso simplesmente levantar e sair andando por ai. Ta certo que não fará muita diferença, afinal minha honra dever ter ido junto com alguma das parasitas que cruzou meu caminho.
Será que vale a pena manter minha palavra uma ultima vez? eu até que quero morrer mas tenho que entregar um trabalho pra faculdade amanha. Não posso faltar na ultima avaliação do semestre com uma desculpa fajuta dessas.
Eu quero ter reconhecimento em minhas obras e sei que fica muito mais fácil depois de morto, ainda mais se eu morrer jovem assim. O problema é que eu ainda não tenho nenhuma obra. Mas de repente eu posso ser lembrado por alguns em alguma conversa de esquina, alguém pode lembrar do Salvador, aquele cara simplório que tava sempre ali na volta, nunca fez mal a ninguém... com alguma sorte alguém pode até lamentar minha partida.
Já deve ser mais de nove e meia e meu corpo moribundo e cheio de ossos faz companhia a minha mente afetada por todas as besteiras de verso de caixa de cereal e ondas de microondas. Sinto meu crânio cada vez mais apertado por todas as palavras que nunca consegui dizer, sinto minha consciência querendo fugir de mim – “Não, fica aqui. Me faz companhia só mais um pouco.”. É o que digo pra ela tentando fazer com que não me privem dessa que pode ser minha ultima escolha. Viver ou não.
Eu sempre tive insônia mas justo hoje sinto que dormir cairia bem. Mas e se eu não acordar mais? nem me preocupo, todo o café que tomei na minha curta vida deve ser suficiente pra me manter com os olhos vidrados por pelo menos mais uma década.
Sinto também os mosquitos me picando para extrair o pouco sangue que ainda resta no meu corpo frio, fazem isso como se estivessem vingando cada pequeno mosquitinho que eu matei. Fico até feliz com isso, pelo menos sei que ainda estou vivo.
Viver... eu pensando tanto sobre isso e acho que nem sei direito o que significa. Será que isso que eu venho praticando ao longo dessas duas décadas é mesmo “viver”?

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Jaz-mim

Olhando assim nem parece triste, ainda mais quando se colocam jasmins espalhados pelo corredor, não que fossem pra ele, mas mesmo assim os jasmins faziam seu serviço.

O homem que maquia os cadáveres hoje virou um e não há ninguém para maquia-lo. Há somente uma pá, que de tanto pá-virar hoje em dia é pá-furada.

A terra de enterrar está molhada e afunda o pé do coveiro que não veio trabalhar.

O maquiador que hoje é defunto bem que podia se enterrar, mas não faz sentido se ninguém for chorar. E ninguém vai. Tudo por causa dos jasmins - não que estivessem ali por ele, mas mesmo assim fizeram seu serviço.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Eu acho que quero te querer

- Eu posso te queimar?
- Pode, mas só um pouquinho. – Se ele não perguntasse eu queimava até os dentes, mas eu não gosto de homem frouxo.
-Tu me amas?
- Amo – Se ele não perguntasse eu não diria, o faria.

Na dor e sem calor - Press REW button

- Press REW button, please.

O frio cai monocromático sobre meu corpo, espalhando impulsos nervosos que me fazem retorcer os dedos. Nenhum dos vinte escapa. Não há barras de ferro ou pedaços de madeira à minha volta, o máximo que posso fazer, então, é destinar meu olhar para o centro da terra, onde minhas lágrimas batem e rebatem, ecoando uma sinfonia-doente que, fascinada por si mesma, clama por mais lágrimas.
Já é difícil até de me apoiar nos joelhos e olhando para baixo sinto algum resto de sangue ou um tumor, não sei ao certo, se dirigindo à minha cabeça. A dor é essencial neste momento, ela é que me faz sentir vivo e lembrar que não sou o único que está errado, afinal, o que mais a vida é além de uma ótima idéia executada da pior maneira possível?
Mesmo apoiado no chão, meu dedo ainda se torce e por causa de uma pedra, estrategicamente mal colocada - perco uma unha descobrindo, assim, que ainda há um pedaço de carne no meu corpo que eu não tentei comer nos dias de fome.
Não há mais o que esperar. O campo já virou cidade, a menina virou mulher e os entregadores já não me entregam nada. O filme que passa diante dos meus olhos é um curta-metragem de baixo-orçamento e sem os direitos para tocar no fundo as musicas daquele sambista fanho. Mais uma vez centro os meus olhos no cimento-seco que, de tanto me agüentar, sinto como se já fosse meu e mergulho sem luxo e sem sentimento esperando o chão virar mar-vermelho. De novo, de novo e de novo.
...Abro um olho... o outro eu não consigo, não, o outro ta aberto, mas só vejo o preto. Um e dois e o frio, como se medisse em tonelada, me pressiona outra vez contra o chão.
Não há mais esperança. E olha que eu nem queria morrer, só esperava que, como num filme, eu desmaiasse e acordasse numa cama macia de fim de tarde e com um leve calor, glorioso-combatente do frio que, pouco-a-pouco me esmaga tudo-tudo.

Giovana

Depravado, escroto, retardado. – Assim ela dizia que eu era. E eu, bobo feito um cordeirinho, ressoava um comportado “Eu te amo.” na boca do leão.
Toda quinta e sexta carnificávamos o nosso amor. Quinta, no dia dela, eram sempre exatos vinte e sete minutos de penetração blasé embalados por cinco ou seis modinhas démodé. Já na sexta eu não a perdoava, despia ela com os dentes de todo seu pedantismo e a estocava até ficar explicito em suas artérias azuis.

- Devagar, tu queres me matar?
- Não amor, preciso de ti amanhã. Quero que me exibas pra todas tuas colegas de serviço mal-amadas que matariam pra me fazer um boquete enquanto gozam com uma garrafa de vinho-tinto socada no cú e descansam Marta Medeiros na cabeceira.

Giovana tentava me comprar com o sonho de Paris, e eu, tentava corrompe-la com o sonho de Platão.

Oito livros por mês e a vida me ensinou a ser o avesso de tudo. Quero assistir o desfile com Giovana em dia de feriado militar. Juro que me comporto pra poder andar no banco da frente.

Mesmo não tendo uma Harley Davidson, Giovana sabia que minhas ereções matinais eram toda a aventura que ela conseguiria nessas alturas da vida. Com quarenta e dois anos divididos pelos níveis de submissão, se ela me deixar agora, o máximo que pode conseguir é um advogado com uma vida de quase-luxo e um priapismo em pílula azul de quatro horas.

Se não experimentou maconha na faculdade, agora é que não vai fazer.

Já eu busco o oposto, levianas mentiras à mesa de jantar e a vida em eternos close-ups. Não é a toa que faço filosofia, de onde mais eu poderia tirar assunto para me aproximar de elegantes mulheres de meia-idade que praticaram sexo-anal contadas dezessete vezes, uma em cada aniversário de ex-esposo?!

Giovana me trata como se eu fosse sua nova bolsa Prada, e eu gosto disso, mas na hora do sexo é que eu me divirto. Assisto prazerosamente Giovana tropeçar em suas “convicções”. Ela diz que quer fazer a volta ao mundo, mas consigo ouvi-la gritando em silêncio quando rasgo seu lindo conjunto da Tifanny’s. Talvez, no fundo, isso seja o que me dá prazer nessa hora.

O odor de Channel misturado a lagrimas contidas é divino.

Naturalismo Profano

Poucas vezes na minha vida tive a oportunidade de fazer amor.

Minha cabeça, em freqüências variáveis, recusa a vontade de excluir o lado sórdido dos meus pensamentos. Uma tentativa pudica e víscerosa de me remeter a aquilo que realmente sou.

(EU NÃO QUERO!).

Essa aceitação filosófica da verdade, nua-e-crua, me arrebata com movimentos involuntários-destrutivos. Meu corpo luta, luta e luta. Tudo em vão. Sigo me olhando no espelho e vendo a imagem mais sincera do que sou, o homem por trás das máscaras, o homem que construiu as máscaras, o homem que quebrou as próprias máscaras.

(EU NÃO QUERIA!).

-Não é por mal. Ele me pede, mas não é por mal.

Passos delicados, suaves, num chão azul-escuro, procuro lugares isolados, onde nem o brilho do luar possa revelar minha tristeza (eles dizem que é doença, mas já disse – não faço por mal). Fugas emaranhadas e nomes em salto-alto não adiantam nessa hora, eu sempre consigo fazer – mas não é por mal, eu juro. Eu nunca rasgo nada e tenho sempre uma preocupação com os botões. Ajo com muito carinho, não que eu sinta alguma coisa, mas é que tenho medo de me ver refletido em lágrimas.

(EU NÃO QUERIA, MAS ÀS VEZES EU QUERO).

Foram tantas vezes que já nem me assusto mais... só com o silêncio. Quando dá o silêncio eu corro pra contar pra ele, eu conto porque dói, e ele ri de mim (eu não gosto quando ele ri... e ele sempre ri), aí eu me sento num canto e ele diz que me ama. Eu amo ele também, por isso é que não vou embora, mas se ele fosse seria bom.

(EU FAÇO, MAS ÀS VEZES NÃO QUERO).

sábado, 23 de agosto de 2008

Ama em pé e samba na chão

Enquanto houver um coração no chão haverá um bordel em pé.
E haverá um malandro, sambista da dor – samba-dor-samba-dor -
recolhendo cacos do pobre pierrot, – com-amor-sem-amor.


Enquanto houver uma mulher em pé haverá um homem no chão.
E haverá o samba pro sambista – dor-que-samba-samba-dor, e os cacos do palhaço sofredor – sem-amor-sem-sabor.


Enquanto houver uma emoção de pé haverá uma razão no chão.
E haverá a dor, do samba e do amor – samba-mor-sangra-dor,
e os cacos do malandro – samba-dor-dor.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Filando o finado

Acordo cedinho, junto todos os escritos burocráticos que ajudaram a desmatar algum restinho de floresta e saio de casa com um sorriso esperançoso no rosto.
Dois ônibus, um pouco menos de camada de ozônio no mundo e uma hora a mais sem samba na minha vida.
Ficha 873b.
Tempo estimado para o atendimento: entre 30 minutos (caso o santo homem da fala feia tivesse algum poder nesse país) e 6 horas (caso continuem funcionando apenas 2 dos 38 guichês existentes no local).
Lá da cadeirinha do fundo eu vejo meu número brilhar no luminoso. Foram só 5:45h na fila, ainda bem que não foram 6.
Me encosto no guichê 2 e vou abrindo minha pastinha enquanto a moça já vai falando:
- Nome. – Diz ela com cara de concreto.
- Severino dos Santos – Mas não de todos (salve meu São Judas Tadeu e São Jerônimo Emiliano).
- Documentação. – Preparando o bate-bate de botões.
- Ta aqui, minha senhora. – E tava mesmo.
- Cadê o comprovante de quitação da ultima parcela do terno? – Com a mão de unhas vermelhas semi-descascadas sobre minha pastinha.
- É que eu ainda não terminei de pagar, mas minha mulher disse que paga as 7 parcelas que ainda faltam até o fim do ano. – Tremo e tremulo.
- Eu não posso liberar o seu atestado de óbito sem a documentação requerida, meu senhor – Já anunciando o 874b no luminoso.
- Mas moça... - ...
- Meu senhor, traga a documentação direita num outro dia e como é a sua primeira vez o senhor terá direito até a uma autopsia, caso os médicos já tenham acabado a greve. – Ela consegue falar tudo isso sem perder o pouco de ar que cabe no corpo espremido pela calça 4 números menor.
- Ta bem, moça. – Meu sonho de melhora vai ficar pra outro dia.
- Próximo! - !

domingo, 10 de agosto de 2008

Quando chia a panela

Daqui do meu quarto eu posso ouvir a panela chiar. Aí não demora muito pra uma canção-chorada ecoar triste aqui em mim. Vem batendo parede-em-parede e desagua seca nos meus ouvidos.

Quando eu era menor, conseguia fingir que não me importava, brincava com barquinhos de papel que navegavam nas lágrimas da minha mãe. Era mais divertido do que brincar na banheira porque água de lágrima é salgada.

Eu tento trancar a porta do meu quarto, mas não adianta, alguém deu a chave para a panela, e ela entra, e entra o choro, e entra a tristeza, e entra-e-fica, e as vezes só o que não entra é a canção, mas o resto entra, e entra-e-fica. Quando é assim, eu rezo pra Santo Expedito (a minha causa pode não ser justa, mas tenho urgência), rezo pra ele me salvar, rezo pra ele tirar tudo que tem na minha cabeça, tudo-tudo, até o que tem de bom, mas quando eu abro o olho, depois da reza, eu vejo que não fui salvo, e que a panela ainda ta aqui, a panela eu não vejo, mas sei que ela ainda ta aqui.

O que me consola é que a panela bate-e-bate, mas nunca me mata. Às vezes eu até gostaria que ela me matasse, mas ela não mata, tem hora certa pra parar, pára na hora da graça, e pára com precisão, meio-dia é a hora sagrada.

Quando a panela pára, e pára o choro, e pára a tristeza, aí a gente senta à mesa, eu dou um beijo em minha mãe e procuro não olhar pros olhos dela, vermelho é uma cor que sempre me deixa triste.

A gente senta ali e ela canta, mas canta sem o choro, sem a tristeza e sem a panela. E não precisa de mais nada, a gente só aproveita esse tempo sorrindo em terra-firme. Em terra-firme não tem panela, nem tristeza e nem choro, tem ela, eu e a canção, às vezes tem o almoço, mas quando não tem eu já nem me incomodo mais.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Nós Três

Aí o dia clareou, o remendo se rasgou, e a chuva, mesmo querendo, não molhou. Na verdade, quem queria era eu. A chuva só batia-e-pingava, ela molhava, mas eu secava.

O ruim da chuva e que ela vem no fim. Antes ainda tem o frio, o vento e o trovão. Eu já passei por tudo isso. O frio não me congelou, o vento não me levou, e o trovão, sabe Zeus porque, não me acertou.

Além disso, todo-dia, ainda tem a vida. E antes e depois da vida, a morte. E no meio da vida, em meio a tantas outras, tem a minha, que, mais ou menos no meio (um pouquinho pra esquerda) tem uma ferida, a minha ferida.

Por essa ferida é que eu agüentei o frio, fiquei no vento e encarei o trovão. Tudo por ela. Tudo por achar que a chuva ia me lavar, mas a chuva só batia-e-pingava, ela molhava, mas eu secava.

Antes eu até contava as chuvas que eu secava. Antes de perder a conta eu até as contava, mas agora, depois de tudo (mas antes da morte), apenas fico aqui, na verdade, ficamos os três; a vida, a ferida e eu.

A vida para ser vivida, a ferida para ser lavada e - eu.

domingo, 11 de maio de 2008

Santificação do pobre -eu-

Depois de um tempo você acaba desistindo da igreja. Eu passava boas horas da minha vida lá, achando que Deus me pouparia no dia do juízo final, mas Ele não vai. Nos últimos dias eu ficava me masturbando em pensamento enquanto o padre falava de meia-dúzia de putos-amarrotados que a gente só conhece dos calendários. Às vezes, quando eu alcançava a graça, jorrava o gozo pelo nariz.


0300-666-DEUS
- Para comprar o seu lugar no paraíso, tecle 1
- Para extrema-unção, tecle 2
- Para tele-sermão, tecle 3
- Para comprar ingresso do show dos Beatles com o Paul original, tecle 4
- Para milagres, tecle 5
- Para comer uma de nossas atendentes, tecle 9
- Lembre-se de visitar o nosso site, www.oh-my-god.com


É isso. Vou fazer um empréstimo e virar crente numa dessas novas religiões, comprar sêmem-congelado de Jesus enquanto o assisto, mais José e Mâinha, dançando numa ópera-rock.
Se no cartaz novo dessa igreja mostra até o nosso Satanás entrando na fila para comprar pão que não está amassado, por que eu não posso também?


- Nome...
- Antonio Benedito dos Reis.
- À vista ou no cartão?
- Faz parcelado?
- Em até 4-vezes.
- Então me dá duas.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Se não posso ser um, me viro em dois

Se não posso ser pedreiro, viro madeireiro. Construo minha casa de pau-a-pique e viro barrereiro pra fazer o arremate.
Faço a porta e janela, deixo até algumas frestas pra tirar esse teu cheiro lúbrico.

O pedantismo pouco-a-pouco vai nos matar.

Vou chegar em casa todo-dia, na hora da Ave Maria.
Vou sentir tua faca de aço-velho penetrando o meu corpo, se estranhando em minhas entranhas.
Vou falar baixinho no teu ouvido que ainda te amo.

E de noite, na cama, eu peço pra tu não chorar. Se Deus é feito de misericórdia, Ele ainda há de nos perdoar.

De manhã tudo de novo. O sol-na-cara. Rebento do povo.

terça-feira, 1 de abril de 2008

5:37

5 milhões de teraherts combatendo 7 milhões de gigabytes.
A morte, com a foice entre os dentes, fazendo cafuné pra tentar sarar minha dor de cabeça. Mas ela não encosta seu pezinho fino no meu gelado.
Ela tem medo que eu queime seu coração-ameixa com o foguinho da minha carência.
7 milhões de hyper-nadas combatendo 5 milhões de super-outros.
Jacó não sabe que eu roubei o seu carinho, mas eu sei que mesmo assim ele o daria pra mim.
5 milhões de pensamentos combatendo 7 milhões de escapamentos.
E todos eles espremendo minha cabeça-quilograma.

domingo, 30 de março de 2008

Acorda

Os coringas presunçosos colhiam o dia como ninguém, o problema é que eles nunca fizeram estoque. Foram aproveitando o momento até a hora em que o sonho morreu na contramão.
Rock-Amargo e Cafe-Tacuba já não dão mais conta do recado

Como te extraño!