domingo, 25 de janeiro de 2009

Lua e Sol na Terra de Deus

Quando a lua anoitece o dia, o dia morre de alegria.
O dia morre pensado em amanhecer a lua e, assim, a lua desce e padece a espera de outro encontro,
num eterno esconde-esconde onde, qualquer dia, talvez num meio-dia, a lua-cheia de não ter o amor, abrace o sol e receba seu calor.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Da Lua que virá, o nada vira tudo

Antes de ter o tudo, tinha o nada.
E o nada, preto-e-perto, tinha tudo, limpo e claro, tomado pelo preto, longe-escuro.
Um dia o dia vira, o vento vira a vela e a vela apaga o vento.
O sol que se gabava já não sola como solava,
sente o frio que vem com o vento, triste-opaco, já é relento.
O nada que está com tudo, tem tudo, que ainda é nada,
mas sabe o tudo que ainda é tudo se hoje o tudo ainda é nada?
Meu dia ainda é noite, e quem sabe é o sabiá,
mas do tudo, que ainda é preto, espero a Lua me iluminar.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Sentindo pena dói menos ainda

- De marreta é assim, filho, “levanta pra cima” e, quando desce, quem vem a baixo é o boi. É uma. E vai um. E vem outro. E outra. E vai o outro. E mais um. E mais uma. E é uma só porque o pai tem pena deles, filho.
E depois “da uma” vem a faca – se não morreu “na uma” morre na faca.
Passa a faca e deixa de pata pra cima, o sangue sai do buraco e entra no nariz pra sair no buraco de novo – se não morreu na faca morre no sangue.
Vez ou outra o pai pega uns boi brabo, filho, uns que não morrem nem na marreta, nem na faca e nem no sangue, mas aí, depois do sangue, o pai tem que tirar tudo que tem dentro, pra vender separado pro moço do açougue e, se não morreu antes, morre agora. Desses eu sinto mais pena. Esses morrem vazios e ainda por cima sentem o vazio... se sentem vazios – dizem que o vazio de dentro é o pior.

- E eles gritam porque dói, né pai?

- Doer, dói, mas ia doer mais se o moço do açougue chegasse aqui e não tivesse boi pra eu vender, ia doer mais porque ia doer na gente, filho.
Agora vai pra dentro de casa, amanhã o pai te ensina como sentir pena deles – sentindo pena dói menos ainda.