sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Filando o finado

Acordo cedinho, junto todos os escritos burocráticos que ajudaram a desmatar algum restinho de floresta e saio de casa com um sorriso esperançoso no rosto.
Dois ônibus, um pouco menos de camada de ozônio no mundo e uma hora a mais sem samba na minha vida.
Ficha 873b.
Tempo estimado para o atendimento: entre 30 minutos (caso o santo homem da fala feia tivesse algum poder nesse país) e 6 horas (caso continuem funcionando apenas 2 dos 38 guichês existentes no local).
Lá da cadeirinha do fundo eu vejo meu número brilhar no luminoso. Foram só 5:45h na fila, ainda bem que não foram 6.
Me encosto no guichê 2 e vou abrindo minha pastinha enquanto a moça já vai falando:
- Nome. – Diz ela com cara de concreto.
- Severino dos Santos – Mas não de todos (salve meu São Judas Tadeu e São Jerônimo Emiliano).
- Documentação. – Preparando o bate-bate de botões.
- Ta aqui, minha senhora. – E tava mesmo.
- Cadê o comprovante de quitação da ultima parcela do terno? – Com a mão de unhas vermelhas semi-descascadas sobre minha pastinha.
- É que eu ainda não terminei de pagar, mas minha mulher disse que paga as 7 parcelas que ainda faltam até o fim do ano. – Tremo e tremulo.
- Eu não posso liberar o seu atestado de óbito sem a documentação requerida, meu senhor – Já anunciando o 874b no luminoso.
- Mas moça... - ...
- Meu senhor, traga a documentação direita num outro dia e como é a sua primeira vez o senhor terá direito até a uma autopsia, caso os médicos já tenham acabado a greve. – Ela consegue falar tudo isso sem perder o pouco de ar que cabe no corpo espremido pela calça 4 números menor.
- Ta bem, moça. – Meu sonho de melhora vai ficar pra outro dia.
- Próximo! - !

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